sábado, 11 de setembro de 2010

23 Turismorfético

A tendência atual entre os grandes centros turísticos é a prática de uma concorrência feroz e sem limites, na qual tudo é possível, mesmo o impossível, ou seja, onde o impossível é possível. Para que o leitor, em geral acometido de indigência informativa aguda, possa ter uma idéia dos níveis atingidos por essa disputocracia (perdão leitor pelo baixo-calão, melhor talvez fosse dizer: disveadocracia, disgaycracia ou dishomossexualocracia), basta dizer que o ramo mais novo e promissor no mundo da espionagem é a especializada no mundo turístico. Esta há muito já ultrapassou outras modalidades tradicionais e lícitas de espionagem, como a política, a militar, a industrial, a diplomática, a religiosa, a esportiva, a artística e até a espionagem quimicamente pura – espionar por espionar - na qual os espiões não sabem o que espionam, nem querem saber e têm raiva de quem sabe. Guindada ao status de ciência, academicamente rotulada de Espiorística (Espionagem Turística), já consta do currículo de algumas das maiores universidades ao redor do mundo, como a de Urtgnlenkvrólia na Croésia Insular, do Instituto Superior de Antitecnologia Nuclear, situado no sul do Deserto Mongolóide e da Unimérdia, Universidade do Mercado da Dinamarca Austral. Espiorísticos (ou espioristólogos, como alguns preferem ser chamados) famosos – como o israelense Ibn Abdul Ibn, o francês William Mc’Lern, o alemão Ugundo Bantô, o saudita David Jacob Stein e o português Joaquim Manoel de Lisboa, todos, certamente, usando pseudônimos desorientadores de suas identidades pessoais e nacionais, como já é hábito entre os acadêmicos dessa humanística ciência – estão hoje entre as maiores estrelas da mídia científica e, consequentemente, entre os maiores salários mínimos da zona agrionesca. Os Zés e os Zero-setes, ou seja, os cabeças-de-bagre e os cabeças propriamente ditos, dos mais variados e avariados centros turísticos, têm atuado incessantemente no sentido de desenvolver sofisticados processos apurrinhativos e engenhosíssimas armações filhasdapuríssimas, (ríssimas não, tíssimas), para atazanar a vida de seus concorrentes, tentando conseguir colocar carne estragada na empada alheia e, de quebra, jogar dejetos no ventilador do vizinho. Torpedear um congresso, viabilizar o cancelamento de um super-show, instigar greve nos aeroportos, provocar o colapso do sistema elétrico, conseguir que o concorrente programe uma apresentação de axóde (axé com pagode), descobrir e furar a sequência de eventos da alta-estação alheia, rezar para São Pedro fazer chover às pampas durante a dita, subornar, alimentar e encaminhar esquadrilhas de borrachudos e nuvens de pernilongos em direção das principais praias e estâncias das forças oponentes, são algumas das mortíferas e demolidoras ações peçonhentas (aprovadas pela AGRESTUR – AGência Reguladora da ESpionagem TURística) terçadas entre os lealíssimos concorrentes. Como deve ter ficado claro, quase claro, digamos cinzinha, das ações acima citadas, algumas delas extrapolam o campo da pura, simples e ética espionagem e invadem o terreno do terror aberto e deslavado. Cabe, então, consignar que a Espiorística tem uma ciência irmã, quase gêmea, na verdade, um irmão, o Terrorístico, (Terrorismo Turístico), consistindo hoje numa das carreiras mais promissoras para os jovens pré-universitários, altamente incentivada pela Unesco, pelo FMI e pela Igreja Universal do Reino do Banco Central. Assim, Pau Doce, depois de intensa e febril atividade espiativo-dedodurística, assessorado pelos mais renomados e famosos espioristas e terrorísticos secretos disponíveis no mercado negro, descobriu que a última moda no disputadíssimo mundo dos eventos de turismo associativo são as já famosas celebrações onomásticas. E o que são celebrações onomásticas? (Não confundir com cerebrações onanísticas). A coisa é muito simples: são orgias comemorativas. Comemorativas, não de uma data ou acontecimento especiais, (tipo Impeachment do Collor, derrota do Maluf ou gravidez precoce da filha de um desafeto), mas de absolutamente nada. Na verdade, são orgias sócio-agregativas, cujo único motivo plausível é engordar as contas bancárias de toda a cadeia turística de uma cidade, ou região, com o soliotário pretexto de convidar pessoas com um determinado nome a se reunirem com outras pessoas que tenham esse mesmíssimo nome, com a finalidade de estarem juntas sem nenhuma finalidade. Assim, quem se chama Paulo está, em princípio, convidado para a onomasticação, ou a celebração do dia do seu nome, na cidade de São Paulo. É a verdadeira exacerbação da omonimia masturbativa. Dois ou três dias de festejos para os Paulos e Paulas de todo o Brasil (que não se conhecem) se encontrarem e perguntarem: “Ah, você é Paulo? Que maravilha! Sabe que eu também sou Paulo? Não é surpreendente? E aquele bando lá? Tudo Paulo!” É uma verdadeira paulada. Os Carlos, se reúnem no Rio de Janeiro; os Antônios em Curitiba; os Franciscos em Salvador; os Deusdédites em São Querêncio das Costas Largas, e assim por diante. Claro que pode a mesma cidade ser a Meca de mais de um nome. Em épocas diferentes, evidentemente. É o turismo se reinventando sem parar, dando nó em pingo d’água, tirando suco de pedra. Pau Doce, para não perder carona nesta onda, sediará o encontro comemorativo de um dos nomes mais importantes para o povo brasileiro e, hoje, dos mais pronunciados nas pias batismais e mais declarados nos cartórios de registro civil do país: Pauno. Pauno e Pauna, claro (É comum a crença de que este é um nome só masculino, porém é engano, pois Pauna abunda). São esperados os Paunos mais famosos do Brasil e até alguns do exterior. Do exterior? Sim, Paunos estrangeiros. Confirmaram presença, entre outros, o pianista do Congresso Pauno Cunhado, o zoólogo Pauno Coelho, a campeã de basquete Pauna Scotchas, o Ministro Pauno Curado, o sindicalista Pauno Lula, a sociality Pauna Plebe, o sobrinho do ex-governador de São Paulo Pauno Serra, o médico protologista e cirurgião bucal Pauno Kutêo Jr., o fundador da seita “Não sou o dono do mundo, mas cobro o dízimo por ele” Pauno Papa, o doleiro e megatrapaceiro Pauno Resto. Infelizmente, não poderá comparecer a famosa dupla-de-dois estilistas-farofeiros Pauno Bama e Pauno Brown. Que chance única Pau Doce vai perder!


Foto do Encontro Comemorativo dos Paunos em Pau Doce
A foto comprova que tanto Pauno cumula como Pauna abunda

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