sexta-feira, 8 de março de 2013

ÚLTIMA PARTE Adeus, querido Pau!

Finalmente tudo acabou. Está acabando. Vai acabar. Teus me chamou! Teus vai me levar para junto dele! Ateus férias, ateus alegria de viver, ateus Pau Doce! Não mais o Bar Bicha, não mais o Sans Chupança, não mais a Glória de Pau Doce, o Tango no Réia, o Bar Tolomeu Bartolo, Meu, o Esfola o Pinto, o “Não põe a mãe no meio que eu ponho no meio da mãe”, o Licor no Manso! Tchau PE DO FILO, tchau Órfãos de Jimmy Hendrix, tchau Caiçaralhos! É duro saber que não mais verei o Cego Se Guinho, a Roleta Pinto Durão e o Jacinto Pinto Aquino Rego (êpa!), o futuro doutor João Gandaia, o divino NAVIFITCHASIL I! Que saudades terei das festas no Grêmio Recreativo Mocidade Dependente de Pau Doce, cantando horas e horas o samba-enredo, exaltação das históricas figuras de Dom Cornélio Manso, de Dona Pureza Castiça e, sobretudo de Ricardão, o lacaio. Lembrarei, com certeza dos shows dos Gargarejos Anuais abrilhantando o Baile da Saudade de Pau Doce, revezando com a banda onomatopéico-feminina “Xá-nã-nã-nã-Xá-nã-nã-nã-Xá-nã-nã-nã-Xá-nã-nã-nã”. Ah, a vibração do INMUNDÍCIA, da festa de São Vinte de Pau Doce, O Ritual de Libertação do Uirapuru, o espetáculo Capando o Cabral e a visão ímpar (de fora para dentro) do C. U. dos Prejudicados! Jamais voltar a ver o febril trabalho na Unidade Agrícola Fumoprodutora Transa Livre, nem brincar com o nome desta amantíssima praia, chamando-a de Vara Melada, Cacete Açucarado e Pênis Edulcorado! Impossível voltar a curar minhas homéricas ressacas na Farma Lícia, ou aspirar a atmosfera achocolatada da Charutaria “Esse Eu Ponho na Boca”, ou ouvir o bimbalhar dos sinos do Motel Nossa Senhora dos Necessitados (com esse nome, a entrada do freguês é saudada por um carrilhão)! Melhor esquecer para sempre do Maquidonáus, como esquecerei, com certeza, da escalação do falso escrete da ENTERRAOPAU: Pilha Fraca, Fala Baixo, Desligado Maneirinho e Lexotan, Pouca Lenha, Freio de Mão e Descarrego, Come Quieto, Amansa Sogra e Dorminhoco (Ainda lembro!). E o surf? Não mais poderei surfar no molhado, quer dizer, na umidade, já que quando está um pouco mais que úmido tenho medo de me afogar; é o “surf in glass”, surfar no copo de whisky, contemplando a praia através deles (copo e, principalmente, do whisky). A Bienal do Livro, a Trans-Olimpíada, os cursos de uma só aula na UniPau. Passarei dias, meses, anos, quem sabe? rememorando as avenidas paudocenses como a Monumental e a da Praia, as ruas, minhas queridas ruas, entre elas a Cura Altivo, a Loro Moreno, a Trino de Aquino, a Mara Fona 3ª e a praça Pracinha. Terei espontâneos ataques de hidrobucalidade ao rememorar o Boteco Teco, o Xaveco de Gaveta e o incomparável sanduba Mac-Sard e toda a CU DE PAU. Vou embora para não mais voltar, depois destas diminutas férias, mais com cara de pequena folga. Cheguei aqui ontem, porque vinte seis anos e meio sentado no Pau Doce não são mais do que uma tarde. Vinte seis anos e meio! Vim para um fim-de-semana, um mês, no máximo e acabei esticando um pouquinho para 1431 semanas, 318 meses . Agora Teus me ordena que volte. Que onipotência! Que atitude tão “antigo-testamento”. Chorei, pedi, implorei a Teus, mas nada! Minha mãe se separou do Jardim Ângela Futebol Clube. O pluri-maridão não aguentou com mammy. Segundo revelação de Teus, ela os sugou tanto, que mesmo em sistema de rodízio, nenhum dos 17 suportou a pauleira: 5 fugiram pelo Cabo das Tormentas, 3 desapareceram no Saara, 3 estão internados no Setor de Poli-traumatizados do Memorial Hospital de Johanesburgo, 1 se alistou no Taleban, 2 preferiram vir nadando da África e dos 3 últimos: 2 se suicidaram e 1, que também tentou a paz pela auto-imolação, escapou milagrosamente e, hoje, é monge trapista num mosteiro da Transjordânia. Aí, Mamita voltou para Teus, mas por curtíssima temporada, pois, a seguir, especializou-se em luta greco-romana, tragando 14 campeões, do búlgaro ao canadense, com outros 12 de permeio. Empanturrada de anabolizantes, voltou ao regaço de Teus. Após o que se desviou um pouco para uma fase politicofágica, passando, depois, para um estágio marital com Ivo Pitanguinha e, agora, como sempre, voltou insaciável e, novamente, escalou Teus para saciá-la e ele, por vingança, acabou com minhas feriazinhas em Pau Doce. Mas, ao invés de me fazer voltar a trabalhar numa das fábricas, ou, então, nos escritórios, nas lojas, nas agências, ou em qualquer outro canto, resolveu que vai manter o meu descanso, porém, bem perto dele e de mammy, em São Paulo mesmo. Estou, neste momento, viajando num carro super seguro para meu novo hotel, na capital. Segundo os guardas que Teus mandou para me proteger, estou indo para o Pavilhão 9, no resort do Carandiru. Desta curva da estrada, avisto a praia pela última vez. Adeus minha querida República, vou viver exilado de ti, longe da tua beleza, longe do Paudocês. Adeus Pau dos meus sonhos, adeus sonhos do meu Pau!