domingo, 5 de setembro de 2010

22 O Ministério da Saúde adverte: Pau Doce não é mole

O que faz de Pau Doce um centro turístico, diferente, único, especial e ímpar é o fato dele ser diferente, único, especial e ímpar. Mesmo para aqueles leitores lerdos e desprivilegiados intelectualmente, ou seja, parvos (a maioria, com certeza), se ele não fosse diferente, único, especial e ímpar não poderia ser diferente, único, especial e ímpar. Mas o fato é que ele é dif... bom, é tudo isso, porque aqui o turista age como morador e o morador como turista. Não é maravilhoso? Todo turista, em qualquer lugar do mundo, quer sempre se sentir um local, já os locais sonham em ser tratados como visitantes. Menos aqui em Pau Doce que o troca-troca é de lei. De lei e recomendado pela Comissão Paudocense de Saúde. Diga-se de passagem, que esta Comissão é conhecida internacionalmente por seu trabalho, do qual o Projeto Troca-troca é o mais famoso (em especial no âmbito da comunidade pink) e por ser a única comissão de saúde, reconhecida oficialmente, formada por um único médico, não formado. É uma comissão diferente, única, especial e ímpar formada por um não-formado. Explico: o menino, quer dizer, o jovem, digamos, na verdade, o quase quarentão, que forma esta comissão individual, ainda não é médico. Falta pouco para se formar e o pouco que falta se resume numa palavra: vontade. Sabe como é, esses adolescentes que não abrem mão de continuar adolescendo até a velhice, têm pouca responsabilidade, vivem nas costas dos pais, mordem uma grana das mães (sim, pais e mães, pois, em geral, o pai original está no 5º casamento e a mãe no cesto, não, no sexto) e assistem aula uma vez por ano, exagero que os leva ao limite do estresse absoluto. Nosso quase-médico é um desses. Digo quase-médico e não sei se exagero, já que o querido João Gandaia, nestes últimos 15 anos de faculdade, foi reprovado em 7 das 8 matérias do primeiro ano (a oitava é Educação Física da qual foi dispensado, por surfar o ano todo em Pau Doce). Mesmo com essa performance, não de todo espetacular (este ano recomeçará o curso pela 16ª vez, o que demonstra sua grande qualidade: a persistência), foi contratado para compor a referida Comissão Paudocense de Saúde, (conhecida popularmente como Pau na Doença), por vários motivos e algumas ameaças. Primeiro, por não existir nesta praia outro candidato a trabalhar nessa área (nessa ou em qualquer outra), mesmo sendo funcionário público, recebendo seus proventos sem precisar trabalhar, tendo direito ao 15º salário, auxílio-paletó, vale-pescaria, ajuda-birita, bolsa-coçação e incentivo-boemia, além, é claro, de folga dupla por dia não trabalhado e ressarcimento-insalubridade por ter que atuar vestido, o que em Pau Doce é duplo atentado à cidadania: trabalhar e, ainda por cima, vestido. Os outros motivos, mais relevantes que o primeiro, serão omitidos, porque eu também sou filho de Teus e já estou com o escroto abarrotado de tanto motivo. Na biografia de nosso douto pré-médico, cuja especialidade na medicina, como vimos, é a “primeiranistologia”, um dado interessante é o fato dele não saber, nem nunca ter sabido, quem foi sua mãe, traço comum a toda estirpe dos Gandaias. Seu pai, João Gandaia Pai, seu avô, João Gandaia Avô, seu bisavô, João Gandaia Bisavô, assim como seus demais ascendentes paternos, todos, sem exceção, ignoraram a identidade de suas mães. A única quase-explicação (já que explicação, de fato, não existe) é que os Gandaias são geneticamente promíscuos, estabelecendo incalculáveis intercâmbios sexuais com sem-número de mulheres e, às vezes, com alguns homens com-número (24, por exemplo, mas isto não vem ao caso). Muitas das azaradas consortes, premiadas com um espermatozóide fecundador, acabavam remetendo (remetendo, não retransando, nem refodendo) por correspondência o resultado do conluio amoroso ao Gandaia de plantão e dando no pé sem deixar rastro, o que, sem dúvida, é melhor do que dar no rastro sem deixar pé. Uma vez de posse do novo Gandaia, o Gandaia velho o educava à sua imagem e semelhança e o ciclo se repetia. Isto desde tempos imemoriais. Esta é a saga dos Gandaias, ou Sagandaia, vivida neste momento por João Gandaia, o Atual. Porém, como nosso querido primeiranistologista é radicalmente contra o intercurso vaginal, considerando as hétero-ralações como imorais, pecaminosas e, por que não dizer, hediondas, dando preferência (e outras coisas mais) às sadias pegações conhecidas na comunidade rosa como bagote, ou “bafo no cangote”, é possível que a longa e saudável tradição dos Gandaias seja bruscamente interrompida. E tudo porque um deles, ao invés de levantar o marionete, prefere sentar no croquete.

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