sexta-feira, 2 de julho de 2010

9 Pau do oceano? Não! Paudoceano

Outro dia, um grande amigo, que eu havia conhecido na madrugada anterior, (ele bêbado feito um gambá e eu feito um gambá bêbado) e que teimava em me chamar o tempo todo de “Doce”, ou “meu Doce”, me perguntou de chofre: “Por que você gosta tanto de Pau, Doce?” De início, quase lhe enchi a cara de porrada, mas depois, pensando bem, ponderei sensatamente, que sendo ele mais alto e mais forte do que eu, valia a pena ter autocontrole. E, de autocontrole em autocontrole, reinterpretei sua pergunta e, aliviadíssimo, entendi sua intenção. Por que gosto de Pau Doce? É que essa é uma terra especial, diria mesmo, uma terra santa. O próprio nome é um monumento da mais perfeita contradição (e as contradições sempre pegam muito bem no vaidosissímo mercado do conhecimento): de um lado, o Pau evoca a rudeza natural, o forte e até o agressivo; de outro, o Doce, tudo ao contrário, lembra a suavidade, a delicadeza, o aconchego. Juntos, um universo de sentidos, de possibilidades e de promessas. É tão perfeita a conjugação dessas duas palavras, que imaginar outras quaisquer sinonimias seria ridículo e desastrado. Imagine se, ao invés de Pau Doce, fosse Vara Melada ou Cacete Açucarado! “Onde você mora?” “Em Cacete Açucarado”. Ridículo! “Vai de férias pra onde?” “Vou pra Vara Melada”. A Vara talvez seja menos piorzinha do que o Cacete, mas, mesmo assim, não dá! E os gentílicos, então?: “Sou caceteaçucaradiano, e você?” “Eu? Sou varameladense”. “Varameladentro?” “Que é que é isso, meu? Ta me estranhando? Sou varameladense! Ladense, não Ladentro!” Lindos, não? Mas, o bom de Pau Doce vai muito além do nome. O que me atrai é o lugar. É mais do que o lugar. É a sua beleza natural. Não apenas ela. É o seu clima. Muito mais do que o clima. É a sua gente. É o seu estilo de ser. Sua visão de mundo. Sua filosofia de vida. É algo que contagia. Há aqui um vírus (vírus de Pau Doce). O forâneo em dois dias se faz lugareiro. “E qual a principal característica do povo daqui, meu Doce?” Tornou a questionar-me o gambá que, para ser honesto, estava bem pouco gambalizado, ao menos em comparação com a média de minhas constantes gambalizações. Expliquei-lhe (com meus gestos comedidos e minhas palavras bebedidas) que a riqueza do caráter social de Pau Doce não podia ser resumida numa única e solitária particularidade. Havia muitíssimas, muitas, várias, algumas, mas que naquele momento ela não me vinha à lembrança. Horas depois e tendo saboreado um delicioso e reparador coquetel, o Engrisal (uma caixa de Engov num balde de Sonrisal) consegui me lembrar da maldita característica: Pau Doce era, digamos, digestivo (como o Engrisal). Se me pedissem para dar outro nome a Pau Doce, eu pediria desculpas aos castiços cultores da intangibilidade vernacular, os mandaria a “la concha de su madre” e tascaria o novo nome: “slow motion” (“câmara lenta”, para os que não entendem inglês e não “isolou o mocho”). Aqui tudo é tranqüilo, tudo “de leve”, tudo pro ano que vem. Baianidade aqui é sinônimo de estresse. “É, meu Doce, mas ouvi dizer que aqui também existe pressa!” Tornou a me cutucar meu amigão. Pressa? A única pressa de Pau Doce é uma pressa que, de fato, não é pressa, é P.R.E.S.S.A.: Padaria Repouso E Sossego Sociedade Anônima, que o povo daqui não diz “Repouso e Sossego”, mas “Repouso do Sossego”. Isso diz tudo: Repouso do Sossego. Até o sossego tem que ser repousado. Tudo é paz em Pau Doce. Enquanto em outros lugares os apelidos mais populares são “Navalhada”, “Pole Position”, “Sangue Fino”, “Vapt-Vupt”, agressivos, competitivos, instantâneos, nossas alcunhas, inversamente, são calmantes e procrastinatórias. Nosso time de futebol, por exemplo. Ah, temos um time! Por mais que ninguém saiba que ele existe, (às vezes, nem o próprio time, já que sua existência é virtual, só para efeito de relações internacionais), temos um. É o esquadrão da “ENTERRAOPAU” (ENtidade TErapêutica RApaziada Oligofrênica de PAU Doce). Os nomes, apelidos, alcunhas ou o que seja, de cada jogador falam por si próprios. Lá vai a escalação do time titular: ”Pilha Fraca” (goleiro), “Fala Baixo” (lateral direito), “Desligado” (beque central), “Maneirinho” (quarto zagueiro) e “Lexotan” (lateral esquerdo), “Pouca Lenha”, “Freio de Mão” e “Descarrego” (meio de campo), “Come Quieto”, “Amansa Sogra” e “Dorminhoco” (atacantes). O técnico é o excelente “Quase Parando”, o preparador físico é chamado de “DES” (um acróstico do apelido “Devagar E Sempre”) e o médico (na verdade, veterinário) é conhecido por “Espera, Bicho!” E os reservas? “Baba de Boi”, “Remanso”, “Valsa Lerda” e o octogenário “Belle Époque”. Imbatível, esse time.

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