sábado, 12 de fevereiro de 2011

54 A Casa das Santas Marafonas Reais

Para orgulho de Pau Doce, uma espetacular descoberta efetuada por nosso incansável e competentíssimo InstiTUTO Histérico e PORNOgráfico (TUTOPORNO) foi manchete em todos os grandes jornais brasileiros, com intensa repercussão no mundo universitário internacional. Depois de exaustivíssimas pesquisas, que incluíram, não apenas investigações na Torre do Tombo, em Portugal, mas inúmeras escavações arqueológicas endógenas (explicando para o ignaro e estéril leitor – ou seja, para todo leitor, ou quase todo – o termo “endógenas” refere-se às perquerições teoréticas e procedimentos interventivos do espaço físico, operacionalizados no âmbito mesmo da estrutura urbanística paudocense. Morou?) foi constatado que nos idos de mil oitocentos e quase nada, o prevaricador imperial D. Pedro I, o Ejaculador, utilizou a praia de Pau Doce como centro de sua Cruzada Humanística Pró Inseminação Natural e Pela Desmistificação das Crenças Retrógradas e Supersticiosas na Periculosidade das Manifestações Concretas da Bondade Divina: a Sífilis, a Gonorréia, o Cancro Mole e o Duro e o Furor Uterino Descontrolado (Uma ONG oitocentista). D. Pedro, segundo as revolucionárias pesquisas citadas, mandou construir um luxuoso palácio, com aproximadamente 400 quartos, todos utilizados por ele em suas rápidas fugidinhas do Rio de Janeiro. Esse majestoso palácio encontra-se hoje, deploravelmente, em ruínas e é chamado de PPI (Palácio da Phoda Imperial) pela população mais humilde (designação que, apesar de muito antiga, sempre foi considerada desarrazoada e sem sentido pela cultura oficial). O memorável e revolucionário trabalho do TUTOPORNO acabou dando razão a esse “non-sense” popular. A pesquisa redundou num pequeno e singelo texto de 43 718 páginas que narra as apimentadas peripécias do membro imperial em Pau Doce. O Ejaculador, ou Pedrito, como era chamado à boca pequena, mandou construir o palácio sorrateiramente, à socapa, sem que a velha corte soubesse de nada, menos ainda a “corte velha” como era chamada a sábia rainha D. Maria Leopoldina, a Plugada, sua santíssima esposa, que ficava com os pelos do imenso bigode eriçadíssimos quando desconfiava de alguma patranha extra-oficial do consorte. Com sorte, ele podia ostentar as patranhas oficiais, sem que a matrona do trono se sentisse destronada. Todas as patranhas oficiais eram executadas no Rio e alrededores, tanto as humano-relacionais (coitos variados) como as burocrático-administrativas. As primeiras, devidamente registradas em cartório, superavam a meia centena. Só de Marias, dizia-se ser doze o total oficial (Maria da Caridade, Maria Pureza, Maria Castiça, Maria dos Anjos, Maria Imaculada, Maria do Senhor, Maria Divina, Maria do Amor Celeste, Maria de Jesus, Maria da Graça, Maria do Santo Sepulcro e sua preferida Mariazinha Fuqui-Fuqui). Quanto às burocráticas, eram patranhas pra ninguém botar defeito: a maioria com apenas um objetivo – grana: superfaturamento, arrendamento de cartórios, aluguel de ruas para camelôs, superfaturamento, venda de títulos de nobreza falsos (caríssimos), empréstimo de praças públicas para muambeiros, superfaturamento, lavagem de dinheiro, lavagem de cheques, branqueamento de negritudes, superfaturamento, aluguel de avenidas para sacoleiros, pedágios informais, propinas, participações e superfaturamento. Foi através de verbas originarias dessas chicanas imperiais que o Palácio de Pau Doce foi construído. Sua localização fora escolhida científicamente (há no texto um capitulo inteiro sobre essa meticulosa decisão) depois de acurados estudos efetuados por empresas inglesas especializadas em espionagens, engenharias e sacanagens. Tudo à sorrelfa, evidentemente. E a região eleita só poderia ter sido a que foi, Pau Doce: por sua deslumbrante beleza natural, pela índole permissivíssima de sua gente, pelo clima erótico-libidinoso, por ser absolutamente escondida e inencontrável e, acima de tudo, pela acessibilidade proverbial de suas mulheres. A construção foi uma epopéia da engenharia histórica: todo material vindo da Europa chegava em portentosos navios a vela que formavam verdadeiras ponte-marítimas: Lisboa-Pau Doce, Veneza-Pau Doce, Nápoles-Pau Doce, Liverpool-Pau Doce. A mão-de-obra técnica era também européia e para as peônicas funções Pedrito aproveitou os funcionários da corte carioca. Para que a Rainha não desconfiasse de nada, a estratégia foi fazer de conta que o governo dera férias coletivas à malungada. Durante os 13 meses que durou a construção, não se achava viva alma em nenhum dos palácios reais. À Rainha, quando reclamava da ausência dos serviçais (cozinheiros, mucamos, garçons, cavalariços, valetes, ofice-gajos, mancebos-livres, alfaiates, escovadores de costas, transportadores de urinóis, despiolhadores e despulgadores) ele explicava que estavam gozando férias atrasadas e que não poderia não concedê-las para não se complicar com os fiscais do IIPS (Instituto Imperial de Previdência Social). E a Rainha acreditava!!! Vivíssima essa Rainha! Não chegou a ser nenhuma surpresa para os membros da TUTOPORNO a revelação de que a principal visitadora do palácio tenha sido a Marquesa de Santos. Maria Domitila deixou suas marcas históricas espalhadas pelo imperial matadouro, o que denota sua assiduidade como hóspede de Pau Doce. Mas, não foi a única, nem de longe. A lista das parceiras do Ejaculador é longa e não imune de omissões. Algumas das ludoteraputas, não, ludoterapeutas reais que dela constam são: a Marquesa de São Vicente. D. Avenca do Torreão, a Calunga, a Duquesa do Guarujá, D. Ermengarda Mengarda Garda, a Tartamuda, a Baronesa de Cubatão, D. Estulta de Souza, a Ex-belta, a Arquiduquesa de Praia Grande, D. Piranha Loirão, a Casta, a Marquesa de Bertioga, D. Clivagem da Rosca, a Apertada, a Semi-Baronesa de Mongaguá, D. Bestunta de Almeida, a Fria, a Bi-Duquesa de Teresina, D. Piauina Modesta, a Longínqua, a Pró-Marquesa de Itanhaén, D. Lambisgóia Catão, a Lambisgóia, a Liberta Chiquinha, a Bunduda, a Mucama Bimbinha, a Insaciável, e a Escrava Guta, a Negra. A lista prossegue e é enorme. Com a volta de D. Pedro a Portugal e a tenra idade do Príncipe Herdeiro, o palácio foi desativado. O segundo dos Pedros, lamentavelmente, estava mais preocupado com o governo e com a ciência, do que com as coisas importantes da vida, como a sacanagem, sem nunca ter atentado que os dois primeiros existem em todo lado, mas a putaria é autêntico produto nosso. Seu desinteresse pela vida plena de prazeres levou-o a engordar e a viver muito (o que é uma rematada idiotice). Enquanto o Gordo governava, o PPI transformou-se (sem o conhecimento imperial) num respeitável prostíbulo, freqüentado pelas autoridades civis, eclesiásticas e militares, tudo com muito recato, seguindo o lema da casa: “putaria sim, baixaria nunca!”. Com o passar dos anos e com o inexorável envelhecimento do plantel, o palácio das atrizes tornou-se o reduto das varizes, a casa das crisálidas, converteu-se em asilo das inválidas. Com o falecimento da última das missionárias do sexo, o edifício, vazio, foi se deteriorando até chegar às ruínas atuais. Ainda bem que a fase do primeiro Pedro durou pouco, ou Pau Doce não teria esse nome especial que tem hoje, sendo chamada, para sempre, como o foi nessa época: Prevaricópolis ou Ejaculândia. Eu, hein?

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