segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

53 Encontro Esferogudístico

Noite destas, estávamos sorvendo regularmente, não me lembro se no Licor no Manso ou no Drinks aos Tubos, quando surgiu, como que do nada, como que tendo brotado das paredes do boteco, a retumbante idéia da realização de um torneio de bolinha-de-gude. Por mais que torneios, campeonatos e competições, de qualquer espécie, sejam quase proscritos em Pau Doce, a menção às bolinhas da nossa infância, o som sagrado delas batendo-se umas às outras, falaram mais alto. Qualquer outra proposta competitiva teria sido recebida, primeiro com um silêncio de perplexidade, depois com uma vaia estrepitosa, para culminar com a expulsão do delituoso, não só bar, mas da vida social paudocense. Exílio, no mínimo. Mas, a magia das bolinhas-de-gude relativizou a primeira parte da proposta, que foi tomada como simples força de expressão. Abandonada a idéia, o “torneio” caminhou para um “encontro de aficionados”. Ali mesmo, em minutos, lépidos como sempre, montamos a COMEVENTO - COMissão Organizadora do EVENTO. A tarefa foi fácil (montar a comissão, evidentemente), pois todas as comissões, sejam elas organizadoras ou desorganizadoras, do que quer que seja, têm sempre a mesma formação: a já famosa meia-dúzia de três ou quatro. Para que a idéia não perdesse a força do entusiasmo, marcamos, de pronto, uma reunião pra discutirmos sobre quando deveríamos nos encontrar para optarmos a cerca da data da elaboração de um cronograma que possibilitasse uma decisão, ainda que provisória, sobre a viabilidade, ou não, de concentrarmos nossos esforços no sentido de nos encaminharmos para a oportunização de uma etapa preparatória de esboço temporal, porém que não fosse, de forma alguma, confundida com precipitação ou açodamento, que em Pau Doce gostamos de tudo muito tranquilinho. Ao lado dos verbos vitais do paudocês (não confundir com “pênis alheio”. Paudocês é o nosso idioma oficial): dormir, serenatear, zanzar, botecar, gerar (só a primeira fase), dançar, escamotear, aperetivar, anoitar, puxorroncar, chamajucar, dormitar, abeberar, serenar, adormecer, caipirinhar, copular, bebericar, entornar, pirulitar, divagar (sem contar com muitos outros, até mesmo das 4ª e 5ª conjugações, aqui ausentes), ao lado de todos estes verbos – repito - procrastinar, para nós é de uma essencialidade extrema. Um dos nossos lemas mais queridos é aquele criado pelo célebre escritor romano Postergus, o Lento: “Nunca faças hoje, o que puderes deixar para amanhã” (Non facit hodie, quod futurum executant). Seis meses depois daquela “Noite destas”, o desenho inicial da proposta de agenda com vistas ao Encontro Esferogudístico estava pronto. Rapidamente, chegamos (após apenas 3 anos do desenho da agenda) a um rascunho prévio do evento. Decidimos, primeiro, as modalidades de demonstração. A primeira delas consistirá no delicioso Triângulo Trilateral. Cada demonstrante (não há jogadores, é claro) com sua batedeira de estimação - em geral uma bolinha maior do que as outras e esteticamente especial – atua em função do centro da ação que é um triângulo riscado no chão. Os participantes casam (colocam dentro do triângulo) o mesmo número de bolinhas. A partir de uma base riscada a uns três metros do triângulo, cada um deles lança sua batedeira em direção a ele. Aquele que mais perto do triângulo conseguir chegar será o primeiro a agir. Deve, então, com o polegar, catapultar a batedeira presa no indicador. O objetivo é bater, com força e técnica, nas bolinhas e retirá-las do triângulo sem deixar a batedeira ficar dentro dele. Enquanto o participante conseguir ir tirando as bolinhas, continuará atuando. Ao errar, a vez passa ao segundo, ao terceiro e assim por diante. A demonstração termina quando não houver mais bolinhas no interior do triângulo. As regras são estritas e o jargão tradicional deve ser respeitado:
1- “Mão expulsa”: impulsionar a mão ao atirar a batedeira, o que não é permitido.
2- “Galisteca”: grito a ser emitido pelo lançador, para que a sua batedeira tenha o direito de bater em várias bolinhas no interior do triângulo.
3- “Nem gali, nem galisteca”: grito que, emitido por um dos demonstrantes, que não esteja atuando, anula o grito de “Galisteca” do lançador, sempre e quando anteceder a este, o que veda a possibilidade da batedeira tocar em mais de uma bolinha de cada vez.
A outra modalidade de demonstração será a do “Box”. Esta, porém, por ter regras mais complicadas, não será aqui descrita. A forma de atuar estará, na íntegra, descrita no folder oficial do Encontro. Resolvemos que a efeméride esferogudística será de nível internacional (Pau Doce não poderia deixar por menos). Convites, para participantes de todos os estados brasileiros e para os principais paises do mundo, serão enviados com uma antecedência não inferior a cinco anos, para proporcionar, aos interessados, tempo para a criação das suas associações, preparação esportiva e burocrática de suas delegações e colocação em marcha da cadeia produtiva das bolinhas, ainda a ser criada. Soubemos já do interesse de alguns mandatários e integrantes do Jet-set em participar do Encontro. Barack Obama confirmou presença. Também disputam essa possibilidade: Nelson Mandela, Rainha Elizabeth 2ª, Papa Bento Dezesseis, Fidel Castro, Dalai Lama, Madonna, Osama Bin Laden Jr. (suspeito esse Jr!), Ladran Hussein (tio-avô do Sadan Hussein), as, ainda, belas anciãs Cicciolina, Hebe Camargo e o esbelto Oscar Niemeyer. Silvio Berlusconi, inicialmente, implorou para participar, depois tentou a intimidação através de grupos guerrilheiros, mas a COMEVENTO foi inflexível na não aceitação de sua inscrição e na não concessão de visto de entrada em Pau Doce. O motivo alegado foi que ele nunca abre mão de atuar com sua batedeira de estimação, que é de metal e não de vidro, o que é terminantemente proibido pelas regras. Outros vetos significativos foram aos nomes de Fernando Collor de Mello, Fernandinho Beira-Mar, Paulo Maluf, Waldomiro Diniz e Edir Macedo. Em relação a estes, o motivo foi birra, mesmo. Nem gali, nem galisteca!

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