sábado, 30 de outubro de 2010

33 Enfim, um hino não é um hino (dois)

É possível que algum leitor mais apanacado que o normal - o que é muito difícil, mas não impossível - tenha achado alguma semelhança entre o razoável, quase sofrivel, Hino Nacional Brasileiro e essa esplêndida exuberância inigualável que é o Hino de Pau Doce. Até aí, tudo bem. É possível mesmo que possa haver algo de um que lembre o outro, (já que, como salientei na Itinerância anterior, todos os hinos ou são quase idênticos ou não são hinos), mas jamais Pedouro, o Duralágio, não, Pelágio, o Duradouro poderá ser acusado de plágio (apesar do seu nome sugerir essa possibilidade). Estudos aprofundados efetuados pelo renomado Instituto Histérico e Pornográfico de Pau Doce, que, devido ao excepcional cuidado e extrema competência dos pesquisadores – os ditos porno-histéricos - alongaram-se por várias décadas, consumindo, não um caminhão de dinheiro, mas um comboio inteiro, de verbas nacionais e internacionais, (todas verdinhas, verdinhas), chegaram à conclusão, exatamente oposta. Após penosas consultas a históricos alfarrábios, betarrábios e, até, gamarrábios, todos muito bem acondicionados e preservados - com o auxílio de indispensáveis colônias de traças e voracíssimas populações de cupins, animais sabidamente preservacionistas e indispensáveis para a manutenção de guardados antigos, em especial, de papel e madeira – no falecido arquivo do Município de São Sebastião, comprovaram ter Pelágio concluído sua consagrada sinfonia – apenas a música – no ano de 1821, deixando para compor a letra algum tempo depois (esperou baixar a inspiração), por volta de 1908. Ora, qualquer ignorante e idiota sabe, com certeza, e é possível (pouco, é verdade) que até o leitor também o saiba, que o Hino Nacional Brasileiro teve sua música composta (certamente copiada) em 1822 e a letra (chupadíssima) em 1909. Assim, o pouco original Hino Nacional Brasileiro é muitíssimo mais jovem que a obra-prima paudocense. Despeitadíssimos familiares descendentes dos compositores do clone do nosso hino, os insignificantes e inexpressivos Francisco Manuel da Silva e Joaquim Osório Duque Estrada, tentaram inverter o jogo e enlamear o respeitadíssimo nome do Mestre Plágio, ao acusá-lo de ser ele o autor do pelágio, quer dizer, de Pelágio ser, não o plagiado, mas o plagiário. Com suntuosos subornos conseguiram cooptar criminosamente o Instituto Histórico Nacional, o Museu da Casa Brasileira, a Academia Brasileira de Letras, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Associação Brasileira de Inventores, a Casa do Poeta Brasileiro, o Conservatório Nacional de Música, o Conselho Mundial das Igrejas (setor Brasil), a Associação Médica Brasileira, a Escola Superior de Guerra, a Associação dos Magistrados Brasileiros, o Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra, a Confederação Brasileira de Futebol, o movimento internacional dos Confeiteiros Sem Fronteiras, a Câmara Brasileira do Livro, a direção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a Associação Nacional dos Trabalhadores na Indústria do Turismo Sexual, a Confederação Geral do Trabalho, o Instituto Rio Branco, o Sindicato Nacional dos Heróis de Histórias em Quadrinhos, a Central Única dos Trabalhadores, a Confraria Brasileira dos Devotos de São Longuinho, a Confederação Nacional da Indústria, a Associação Brasileira de Defesa do Mercado de Trabalho das Prostitutas, dos Sacoleiros e dos Vereadores, a Associação das Escolas de Samba de Aparecida do Norte e mais 839 assinaturas de associações autodenominadas nacionais, brasileiras e o escambau. Todas tão inexpressivas quanto ás citadas no rol acima. Claro que os dirigentes da diretoria do IAGAPEPEDE (Instituto Histérico e Pornográfico de Pau Doce) e seus membros (os membros do Instituto, não dos dirigentes, bem entendido) não deram a mínima pelota aos puxa-sacos de Francisco Manuel e Joaquim Osório. Mas, como a insistência foi muito grande e o loby enorme, foi necessário apelar para instâncias internacionais, dessas que não se impressionam com o tamanho do loby. Iniciamos – o Instituto Histérico...etc – com um pleito (enorme também) ao Conselho de Segurança da ONU. Já que a questão era apelar, fomos direto pras cabeças. Como esse conselhinho, que se reúne quando quer, estava demorando para responder e nós não estávamos a fim de ficar esperando eternamente, peticionamos ao Parlamento Europeu, que para alguma coisa deve servir. Os europeus, por sua vez, são mais devagar que os bahianos – só não ganham de nós, os paudocenses, é claro – desistimos e apelamos para a Associação Internacional dos Compositores de Bolero, Mambo e Chá-chá-chá (evitamos a Associação Internacional de Compositores de Hinos, pois soubemos que ela estava já comprometida com os nossos inimigos). Como, ainda uma vez, a resposta tardasse, batemos à porta da renomada, insuspeita e incorruptível Associação das Famílias Sicilianas, também conhecida como Movimento Associativo das Federações Internacionais de Amigos. Finalmente, batemos na porta certa. Descobriram, os pesquisadores da M.A.F.I. A., que a melodia do Hino de Pau Doce é muito semelhante, digamos quase igual, a uma marcha composta no ano 261 aC, durante a Primeira Guerra Púnica (que o indigente leitor se abstenha de tentar fazer qualquer trocadilho de mal gosto com o nome da guerra, por favor), pelo próprio Pelágio, o Duradouro, para ser executada durante uma das batalhas da flatulenta guerra. Assim sendo, ficaram os senhores Francisco da Silva e Joaquim Estrada e seus sequazes, totalmente, desmascarados. É muito provável, que depois dos resultados desta demanda, o governo brasileiro decida derrogar o atual Hino Nacional Brasileiro, já que é um reles plágio. Analistas vêem grande chance da escolha do novo hino recair sobre a composição do Mestre Duradouro. Assim, não seria necessário ensaiar uma canção patriótica diferente: a melodia é praticamente a mesma. E a letra? Bem e a letra, tanto faz, já que nem a Seleção Brasileira sabe a atual de cor. Fazer o quê?

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