segunda-feira, 11 de outubro de 2010

29 Despirocação cidadã

Da mesma forma que Hollywood é a “Meca do Cinema”, Pau Doce é a “Meca da Política”. Como pode, estará se perguntando o axaropado leitor, uma mera praia, bairro longínquo de um modestíssimo município, ser a Meca do que quer que seja, e em especial da política? Caro e primaríssimo leitor, as coisas nem sempre são o que não aparentam ser e sempre não são o que aparentam (não entendeu, não é? Tinha certeza de que com essa profundidade de pires de leite não ia entender mesmo). É, como dizia Exíolo, o Matreiro, em sua fundamental obra “Algumas achegas ônticas à condição reflexo-acomoidal do humano ser”: “Toda moeda de ouro, de ouro terá que ser, ou não moeda de ouro será”. Ou, como nas duras palavras do sábio gregoriano Xenoduto de Phenis, o Ereto, “mais vale não parecer que parece que um parecer que perece”, mínima máxima de sua máxima criação: “Quem confere o ferro, conferido será ferrado”. Assim, se o cinema é a “Hollywood de Meca”, Meca é a “Política de Pau Doce”. Ou a política é “Pau Doce de Meca”. Não importa, “a ordem dos cobradores não altera o propinoduto” (esta já é de Malo Pauluf, o Honesto, em sua obra, obra não, em seu canteiro de obras: “De Jersey, Caiman e outras ilhas paradolarisíacas”). Pau Doce é o centro do centro, o centro da esquerda e o centro da direita. Para cá, todos os anos, meses e dias, convergem todos os que divergem: homens públicos e mulheres muito mais públicas ainda. PuLulam candidatos de todas as estirpes: a cargos majoritários e proporcionais, maiores e menores, internos e externos, quentes e frios, inteiros e fracionários, brancos e cotistas, paulocas e cariístas, gregos e troianos, letrados e analfabetos, marchistas e marxistas. Despencam de todos os cantos e recantos do mundo: da Groenlândia Tropical, de Beabalópolis Central, da Macronésia, da República de São Ateu, do Haiti Continental e de tantos outros lugares impossíveis. Os encontros e eventos se sucedem mês a mês, durante todo o ciclo anal, anual, e vão desde encontros primeiro-mundistas, a encontros totalmente desencontrados, passando por todas as formas de reencontros e improváveis pós-encontros, não esquecendo nunca os proto-encontros e, até mesmo, os encontros furtivos, que ninguém é de ferro. Os que metem e os que levam o dito cujo vêm para cá. Os paradigmas da luxúria ideológica, também. E idem os ícones do conservadorismo, irmanados aos próceres da revolução, da rotação e da translação. Claro que toda essa fauna, que por aqui aflora, não se contenta apenas com a modalidade encontrística. Promovem também, simpósios, congressos, fóruns, cursos, teleconferências, jornadas, prosopopéias, mostras, instantâneos, shows, epístolas dramatizadas, apresentações, work-shops, demonstrações, streep-teases morais, procissões, marchas, desfiles, passeios cívicos, caminhadas, enquetes coletivas, buxixos, mesas-redondas, manifestações, abraços simbólicos, minutos de silêncio e, incrível, até comícios. Um dos mais apetitosos vícios determinantes da primazia de Pau Doce sobre outros centros aglutinadores dos construtores da ação política é o mirífico e absurdo poder de juntar o injuntável, de unir o inunível e de amalgamar o inamalgamável. Na última UNIVERsíade Universal de PAU Doce – a UNIVERPAU – (mais conhecida no baixo-mundo ideológico como ONDa Internacional de TEorização Macropolítica de PAU Doce, a famosa e procuradíssima ONDITEMPAU) uma encontroferência única no mundo, reuniram-se (reuniram-se, evidentemente, é uma força de expressão) 30 partidos que, como linha de atuação e razão de ser, apresentavam uma extraordinária coerência lógico-ideológica. Assim, fizeram-se representar, com numerosissímos delegados, os seguintes harmoniosos partidos: POP – Partido Operário Patronal, PCE – Partido Conservador de Esquerda, PES – Partido da Elite Socialista, PCL – Partido Comunista Liberal, PMR – Partido Monarco-Republicano, PPP – Partido Presidencial Parlamentarista, PTD – Partido Totalitário Democrático, PRU – Partido Ruralista Urbano, PCA – Partido Centralizador Autonomista, PEC – Partido do Extremo Centro, PEP – Partido da Extinção Preservacionista, PBQ – Partido da Bola Quadrada, PCI – Partido da Cromacidade Incolor, PA – Partido Apartidarista, PIP – Partido da Irracionalidade Pensante, PMM – Partido da Minoria Majoritária, PCA(II) – Partido dos Crentes Ateus, PMF – Partido dos Meios Finais, PIN – Partido Intransigente Negociador, PRJ – Partido da Provecta Juventude, PEA – Partido dos Escritores Analfabetos, PMC – Partido da Moralidade Corrupta, PIR – Partido da Ida Retornante, PHL – Partido da Heterosexualidade Lésbica, PUP – Partido da Unicidade Pluralista, PCR – Partido da Curva Retilínea, PFI – Partido do Fim Inicial, PMS – Partido da Multidão Solitária, PTA – Partido da Triste Alegria e PCTP – Partido Contra Todos os Partidos. Agremiações sem identidade ideológica, ou com propostas contraditórias, não foram aceitas na Univerpau, como por exemplo, o PT - Partido dos Trabalhadores e o PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira. Se fossem aceitos seria demasiada avacalhação. Sem-vergonhice tem limite. Tenho dito!

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