terça-feira, 22 de junho de 2010

7 Malhando e dançando

Tudo o que é bom dura pouco! Meus dias de veraneio estão terminando. Parece que foi ontem que eu pedi a Teus para me dar uns dias de folga. E já se passaram três meses. Eu nem comecei a descansar. Praticamente ainda não desfiz as malas. Mas, se o veraneio está acabando, não dá para desesperar. Ainda tenho alguns dias. Antes de voltar a falar com Teus, vou curtir o outoneio, o inverneio e o primavereio. Tá pensando que é só o verão que tem o privilégio de me ver descansando? As outras estações também merecem um lugar ao sol. O importante é que eu tenho aproveitado muito bem o tempo. Por exemplo, tenho feito o que nunca tenho tempo para fazer, mesmo quando tenho tempo: exercícios. Sei que esses odiosos estratagemas, por mais repugnantes que sejam, fazem bem à saúde: regulam a pressão arterial, baixam os índices de mau colesterol, diminuem o apetite sexual incontrolável, constrangem a secreção biliar (ou bilhar?), produzem serotonina seminal, apequenam as chagas hemorroidais, estimulam a sensação de dor motivada por contraição de cornitude aguda (é con-traição mesmo), atrofiam a proporções liliputianas a circunferência e comprimento do ponto euxino (comprimento que não chega a merecer nenhum cumprimento) e tantos outros estados de coma, não, de cama, como esses. O fato é que de tanto o Doutor Trombose Infartão, meu querido cardiologista, me encher o saco, (Subornado por minha mãe. Que Teus a tenha lá em São Paulo! - Teus, além de meu chefe, antropofageia a minha mãe), por telefone, carta e sinais de fumaça, cedi, vergonhosamente, e comecei a me exercitar. Faço exercícios com os olhos: abro-os algumas vezes, quando me chamam, (nem todas, que eu não quero me esfalfar) e volto a fechá-los lentamente. Faço essa violência cinco, seis, até dez vezes ao dia. Procuro exercitar o maxilar (em especial, o inferior) sempre que como; como como comedidamente, como exercício é comédia. Faço estimulação cutânea ao tomar banho de ducha, com aqueles pingões chocantes chocando-se contra minha epiderme; porém, como meus banhos são, preferencialmente, de imersão, a estimulação vai pras picas. Executo, também, um malabarismo muito apreciado pelas mulheres, conhecido como “Língua, pra que te quero?”, muito complicado de fazer e que consiste em colocar, tão rápido quanto possível, alternadamente, a língua na testa e no pescoço, na testa e no pescoço, na testa e no pescoço, até o orgas... quer dizer, até a mulher pedir para parar. E pra você, leitor, não pensar que eu fico o tempo todo morgando, tenho participado de várias atividades esportivas e culturais. Uma delas, muito interessante, foi “A penetração do Pau Doce”. Um tipo de caminhada competitiva, que consiste em penetrar na nesga de Mata Atlântica que circunda Pau Doce. Também conhecida como “Se enfiando no Pau Doce”, que é como se chama a prova feminina. Neste ano, na classificação geral, que inclui mulheres e homens, cinco chegaram em sexto lugar, um no quinto e dois no quarto (claro, uma mulher e um homem), não tendo havido ninguém classificado nos três primeiros lugares. Essa ausência de dianteiros, deve-se à regra da competição, que considera a classificação, não a partir da ordem de chegada num mesmo ponto, mas em faixas distintas da selva, quanto maior a penetração, quanto mais dentro dela, melhor é a pontuação. O ponto de partida é na beira da praia. Neste ano, como já disse, cinco chegaram em sexto (pararam ainda na faixa de areia da praia), um chegou em quinto (no barzinho em frente à rua da praia) e dois no quarto (esses foram desclassificados, pois mal começou a competição a abandonaram e foram para o quarto do motelzinho Nossa Senhora dos Necessitados). Minha mãe ficou toda orgulhosa quando soube que, entre tantos participantes, eu havia chegado no quarto. Outra grata recordação, que vou levar daqui quando voltar ao trabalho, será a do “Baile da Saudade de Pau Doce”, iniciado, como em todos os anos, ao som da emocionante valsa “Saudades do Pau Doce”. Neste baile, é de praxe, obrigatório mesmo, (já que se trata de um preito de lembranças de algo que se perdeu e que tanto se quer reviver), as damas vestirem-se de luto. Luto fechado. O lema delas é “De luto e sem um puto”, no qual o dito puto não é, como pode parecer à primeira vista, uma alusão à falta de dinheiro, mas sim à carência de machos no baile. Abrilhantado pela banda feminina “Xá-nã-nã-nã-Xá-nã-nã-nã-Xá-nã-nã-nã-Xá-nã-nã-nã”, e do conjunto vocal “Gargarejos Anuais”, a noite dançante foi um enorme sucesso. Pessoalmente, tive sérios problemas no que concerne à minha performance como bailarino. Não que eu estivesse alcoolizado, ou coisa parecida. De fato estava, (alcoolizado, não coisa parecida), mas isso não foi o elemento desestabilizador de minha dança ou das minhas tentativas. O problema foi completamente outro, foi semântico. Ocorre que eu havia sido previamente convidado, por carta, para servir de escort-boy (“acompanhante”, para os que não entendem inglês e não “esse corte de boi”) para as jovens moçoilas de uma associação de pesquisa, segundo pude presumir pelo convite que me foi gentilmente enviado. A entidade denominava-se, (com todas as honras acadêmicas e científicas): “Pró-Teses para Aprender a Caminhar, Brasil!”. Que beleza, pensei, um grupo de universitárias maravilhosas soltas aqui no Pau Doce, longe da vigilância dos pais, da família e do rigor dos estudos imposto por suas burocratíssimas e intermináveis “teses”! Teses enormes, imaginava eu. Verdadeiros tésões. Vou dançar até rachar e depois, escolher a mais bonita e... Que desilusão! Que desengano! Que desastre! Quando cheguei ao baile, e vi o estado grupo que estava a minha espera, me desesperei. A mais novinha devia ter debutado dançando no Baile da Ilha Fiscal, o último baile do Império Brasileiro. Mal pude encontrar em meu bolso o convite amassado, e relendo-o, entendi tudo. Não era um grupo de universitárias em fogo uterino e, sim, as participantes de uma associação de senhoras da 5ª Idade (com mais de 110 anos) fazendo um périplo de recuperação após cirurgia de implantação de próteses ortopédicas: “Próteses para aprender a caminhar”.(Brasil).

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