segunda-feira, 16 de agosto de 2010

18 Urbanispaulização

O famoso geólogo bíblico Catano da Babilônia determinou em sua sabedoria: “Se queres conhecer uma urbe, conheça sua topografia”. Já, o historiador medievo Cunnilingus di Breccia, discordando, priorizou, para esse fim, os nomes dados pelos mais antigos aos logradouros, praças e ruas. Enquanto, para o arquiteto Teto da Cruz, contemporâneo, os casarios, os monumentos e as igrejas são os mais seguros cicerones de quem deseje desvendar os mistérios de uma cidade. Caso você, jejuno leitor, não conheça Pau Doce e queira conhecê-lo, quer dizer, conhecê-la, vou utilizar esses três caminhos para guiá-lo. Esta famosa praia, como você sabe, está situada no litoral norte do Estado de São Paulo, no município de São Sebastião, margeada pela Rodovia Rio-Santos, a altura dos quilômetros 90 a 117, não contados do marco zero, mas da cota média ideal subtraída do co-seno da fração negativa da idade de Cristo, digamos, 18, (pela tradição, Cristo teve 33 idades a escolher), bem ao lado de um carrinho de milho verde, de quem chega e amarelo, de quem sai, (em homenagem ao longínquo Pentacampeonato, o proprietário, muito criativo, pintou cada lado do carrinho com uma dessas cores surpreendentes). Quem vier de Santos divisa a praia do alto do semiplatô sul-sudoeste meridiano-vertical (conhecido popularmente como “semiplatô sul-sudoeste meridiano-vertical”) e, a seguir, não mais a divisa, mas sente um esfriamento súbito no baixo-ventre, determinado pela vertiginosa descendente abrupta frontal (uma verdadeira Ladeira Porto Geral caiçara), esfriamento explicado, fisiologicamente, por uma repentina e visceral descarga de adrenalina (da boa) nos emo-condutos que circundam a área supracitada, (da barriga, não de Pau Doce), chegando, então ao Baixio de Entrando em Pau. Quem, ao contrário, vier das bandas do Rio, sofre o mesmo processo ao, literalmente, mergulhar do alto da colina Garganta Profunda (também conhecida como Linda Lovelace), pela descendente nomeada Tobogãboto, (ida e volta), tendo que tomar muito cuidado para não se chocar de frente com o outro, que está chegando de Santos. A rodovia (muito mais rodo que via), separa a parte urbana, (edificada a partir da praia), da Serra do Mar e sua pujante Mata Atlântica com suas múltiplas cachoeiras, cascatas, quedas d’água e seu principal produto o, tecnicamente indestrutível, borrachudo. A praia é formada toda ela de areia branca, quase branca, digamos, clara, assim, meio cinza, e banhada pela água do mar que, surpreendentemente, em Pau Doce, é salgada, (mas, não deveria, se o Pau é doce). Ela é contornada pela Avenida Monumental, (é um monumento de avenida), com seus intermináveis 120 metros de extensão, conhecida, pela geral, como Avenida da Praia ou Quarteirão Molhado. A ela chegam, ao mesmo tempo, todas as suas perpendiculares, em número de 25, num mesmo ponto, o que as torna oblíquas, evidentemente. A do meio, (com 12 de cada lado), é a Avenida Navegador Cornélio Manso, as duas seguintes, (à direita e à esquerda da Cornélio), são a Ricardão Lacaio e a Pureza Castiça, reproduzindo, alegoricamente, o histórico triângulo original fundador de Pau Doce. Seguindo, vêm as ruas –agora todas são ruas - Cura Altivo (homenageando o 1º pároco, padre Altivo do Santo Orgulho, o “Humilde”) e a Loro Moreno (lembrando o inseparável papagaio do Capitão Cornélio, inseparabilidade que o obrigava a lavar 3 vezes por dia a ombreira de sua capitânica jaqueta). As demais, ostentam nomes de personagens secundários da tripulação, (como Secundino de Sá, Duodélio Lima, Doisdédite do Amparo e Bio da Silveira, entre outros), e terciários, da própria terra, (como Trino de Aquino, Trezena de Albuquerque e, a mais famosa e freqüentada, Madame Mara Phona 3ª). A confluência das 25 vias com a Avenida Monumental forma a incomensurável Praça 7, (cujo nome é alterado a cada mês: 7 de janeiro, 7 de fevereiro, e assim, até 7 de dezembro), chamada, carinhosamente, de Pracinha pelos exagerados moradores da própria. Na Pracinha, estão edificados os mais significativos marcos da história arquitetônica paudocense: a Igreja, de estilo colonial envergonhado, o grande Cassino Clandestino Las Vergas, o Mini-mercado da Glória, a Igreja, a sede da AMORADOCE, (Associação de MORAdores de Pau DOCE), o Centro de Umbanda dos Prejudicados, a casa do Dr. Paulão, o “macho”, o restaurante de comida regional Piolho no Barro, a Igreja, e mais, aproximadamente, 700 casas, preservadas desde a época da colonização, vulgarmente chamadas de “O Pombal”. Ah, e a Igreja! Vários terrenos baldios, as entradas das 25 ruas e a abertura para a Avenida da Praia completam a Pracinha. Nos 120 metros da recém-citada Avenida, enfileiram-se, (apenas de um lado, já que o outro está ocupado pela praia), os principais bares, botecos e similares como o Bar Bixa, o Sans Chupança, o Café Coado, 4 padarias, (cada uma especializada em um tipo de pão – esperando-se, para breve, a inauguração de uma 5ª, já que nenhuma das 4 sabe a receita do pão francês), o Boteco Teco, (bar de aviadores e aviadados), o Xaveco de Gaveta, uma franquia autêntica do Mac’Donalds, o Maquidonáus e a Charutaria “Esse Eu Ponho Na Boca”. Como você, leitor, é lento, mas não é de todo parvo, já sabe que na rua Madame Mara Phona 3ª concentram-se os estabelecimentos que oferecem serviço de relações alternativas de tentativas de procriação, ou comercialização carnal ao vivo. Esta concentração está longe de representar monopólio, pois, nas outras 25 vias, (incluída a Monumental), pipocam concorrentes domésticas. E na Praça 7, bom, na Praça 7 temos a Igreja.

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