sexta-feira, 6 de agosto de 2010

16 Écu menismo (um)

O crescimento das seitas religiosas é um fenômeno que, definitivamente, marca o mundo moderno. Quanto mais se desenvolvem a tecnologia e o conhecimento científico, mais o ser humano busca, para sua vida, saídas mágicas e irracionais. E essa hipertrofia acabou contaminando Pau Doce. Não que antes aqui já não houvesse os mais diversos templos carismaticíssimos. Havia. A diferença é que, desta vez, nos tornamos o centro das atenções das tribos do Senhor. Obviamente, é bem possível que só Ele não soubesse disso. Pau Doce foi escolhido como a sede da “INMUNDICIA - INcursão MUNDIal das Companhias (CIAs) Responsáveis pelas Seitas do Senhor”. Mas não foi fácil! Sabedora de que a Comissão Internacional do Movimento “O Carisma é Nosso, e Ninguém Tasca!” buscava um local apropriado para a sua Incursão Quinquenal, o Comando Ecumênico de Pau Doce (o mesmo responsável pela “Festa de São Vinte”, pela “Concentração Candombleística”, pela “Cúpula Maçônica”, pelo “Rumo ao Nirvana: os Budas de Fora Estão Sempre por Dentro” e pelo “Caravançará: Até Meca Avançarei” entre outros), rapidamente apressurou-se em apresentar a candidatura Paudocense à sede do megaculto, com o imbatível argumento de que o Senhor, e todas as possíveis entidades espirituais, sendo assíduos freqüentadores de Pau Doce, já que dão assistência aos incontáveis encontros aqui realizados e, íntimos que se tornaram desta praia, ficariam felicíssimos com essa escolha. Não tendo como refutar tese teologicamente tão bem fundamentada, a Comissão Internacional, que a partir de então passou a chamar-se “COMissão Esperando PAU Doce”, (Comepau), fechou o contrato com o COMando ECUmênico, (Comecu). Mais que um simples contrato, foram pacotes inteiros, completíssimos, envolvendo, além do evento religioso em si, a exploração turística em todos os seus desdobramentos, os direitos de imagem e transmissão, o monopólio de vendas dos produtos publicitários, lúdicos, de alimentos, e bebidas, (oficialmente as não alcoólicas, e, extra-oficialmente, as consideradas “fracas”, com teor abaixo dos 70%. Acima disso, só nas bombas de gasolina), etc. O fechamento da data foi, talvez, o momento mais delicado e tenso na relação ComePau/Comecu, por pouco não implodindo o projeto. O Comecu não aceitou a data original proposta pela ComePau, pois coincidia com o, anteriormente agendado, Congresso Internacional de Beatas de Sacristia. As sucessivas novas tentativas para a datação da INMUNDICIA esbarraram, todas, no problema da superlotação do calendário turístico-religiososo-político-esportivo-cultural paudocense: “Encontro Internacional de Proprietários de Bufê Infantil”, “Simpósio Interamericano de Advogados Defensores de Pedófilos”, “Roda de Samba de Pagodeiros da Ucrânia, Malaia e Groenlândia”, “Congresso Anual (com Disputas) do Sindicato de Prostitutas, Meretrizes e Marafonas das Ilhas Virgens”, “Concurso Mundial entre Terapias para Adultos Viciados em Sopinha de Bebê”, “Festival Internacional de Música para Velório”, “Cúpula Tricontinental de Ex-assessores de Vereadores Municipais”, “Parada Comemorativa do Dia do Agiota”, “Noite de Autógrafos do Autor do Best-seller de Auto-ajuda ‘Como viver a vida perguntando pros outros – Diário de um analfabeto’”, “Volta Ciclística à Ida Quadrada e Ida Ciclística à Volta Redonda”, “Torneio Regional de Sinuca Sobre Rodas e Bilhar Aquático”, “Convenção Trimestral dos Organizadores de Convenções”. Finalmente, quando tudo parecia perdido, ComePau e Comecu encontraram uma data espremida entre um Encontro e um Simpósio, ou um Congresso e um Campeonato, não, parece que foi entre uma Cúpula e uma Parada, sei lá, e puderam bater o martelo. O INMUNDICIA seria realizado de 25 de dezembro a 1º de janeiro. Já se preparavam, os membros das duas comissões adversárias, para assinar os contratos, quando foram alertados pela Dona Maria do Cafezinho que a data acordada coincidia com as festas do Natal (em todas as cidades, estados e nações exteriores a Pau Doce, já que aqui o Natal é comemorado no dia 12 de dezembro) e do Ano Novo. Sem mais delongas, decidiram adicionar um aditivo ao contrato-mãe transferindo as duas festinhas inoportunas para o mês de abril, quando deverão ser, impreterivelmente, comemoradas. A não ser que outra nova comemoração obrigue a um novo adiamento. Aleluia!

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