sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

44 A reinvasão das vulvas desenfreadas

Finda a pausa, vamos às mulheres. Da montanha, então, elas surgiram como que do nada. Mulheres imensas, de pernas intermináveis, seios e glúteos entumecidíssimos, vastas cabeleiras loiras e azuis e expressões lascivas nos rostos descomunais. Muito mais descomunais que os rostos eram suas saliências, entrâncias, reentrâncias e intumescências vagino-abissais. Verdadeiros sugadores atômicos, brutalmente autônomos e descontrolados, pareciam ter vida independente de suas portadoras. Quando começaram a penetrar, como um exército vulvaleone, como uma inexorável divisão panzer, vagarosa, mas devastadora, Pau Doce estava vivendo o auge da orgia nanocopulativa dos pigmeus protuberantes, que invadiam compulsória e compulsivamente todas as aberturas encontráveis e disponíveis: humanas, animais, vegetais e minerais (estas últimas provocando inúmeros acidentes e muitas baixas entre os baixinhos). A primeira reação ante a nova invasão foi a ostensiva indignação das fêmeas paudocenses (humanas e animais) frente àquela concorrência por todos os sentidos desleal, já que as vulvas chegantes, algumas ao menos, não mediam menos do que meio metro (talvez cinqüenta centímetros pareça menos escrachado), se medidas desde o ápice da cumieira frontal até o final da ponta da derradeira encosta, nas cercanias dos baixios recônditos. Para aumentar a caótica e desesperada confusão, os machos locais, todos equilibrando com enorme dificuldade os gigantescos chifres, enxergaram naquela novidade a oportunidade da vingança, algo como a deschifrenização dos cornos e, de instantâneo, como que compelidos por uma vigorosa voz de comando, atiraram-se, coletivamente, em direção às macro-vulvas. Por sua vez, suas respectivas fêmeas revoltaram-se superlativamente contra aquela inominável traição, já que para elas a única traição aceitável (e até recomendável) era a feminina. Masculina, jamais. Elas, que já se haviam indignado pelo temor de perder para as forasteiras a exclusividade dos serviços dos pigmeus, com a desaforada atitude dos seus machos, atingiram a fúria total. Incontroladas, partiram, às centenas, em direção e à caça das amazonas vulvulares, enquanto os machos dividiam-se entre a mesma busca (com objetivos claramente distintos) e à fuga de suas furiosas consortes. As gigantes, por sua vez, sem nada entender e achando aquela gente completamente doida, ou, na melhor das hipóteses, irremediavelmente maluca, buscavam esquivar-se de uns e defender-se de outras, ao mesmo tempo em que, sem se darem conta, esmagavam centenas de anõezinhos com seus pés acachapantes e avassaladores, como quem pisa sobre uma assembléia de baratas. Os pigmeus, então, pela primeira vez interrompendo suas cópulas compulsivas (os que não eram pisados e esmagados, já que esses não interrompiam, mas eram interrompidos) segurando suas armas em riste (a única que possuíam) lançaram-se contra todos os outros três contendores: fêmeas, machos e invasoras. A batalha tomou todo Pau Doce. Um quebra-Pau generalizado (claro que não apenas os paus eram quebrados, mas outros órgãos iam juntos pro vinagre). As hiperdotadas, quando perceberam que o que estava rolando não era uma recepção própria do ensandecido folclore local, nem uma suruba coletiva e sim uma batalha filha-da-puta e generalizada, pararam de cometer pigmeusicídios involuntários e iniciaram uma higiênica despigmeulização, desmachização e desfeminização de Pau Doce. Os anõezinhos, por sua vez, conscientes de que a fodeção geral fora interrompida (coitus interruptus), desenvolveram um feroz brado de luta: “Ah! É guerra, é?” e, em pequenos grupos de 300, de 400, se abatiam sobre uma vítima (se fosse das invasoras), ou 15 inimigos (se fossem machos) ou 30 alvos (se fossem fêmeas- nesse caso, porém, doidos pra transformar a briga num bacanal). Os machos paudocenses, na maior mangüaça da paróquia, tentavam bater em tudo que se movia, mas acabavam sempre dando porrada neles mesmos (o verdadeiro “fogo amigo”). As fêmeas, enquanto isso, percebendo que eram muito maiores que os pigmeus, muito mais rápidas que as invasoras e muito mais sóbrias que os machos, iam contornando o precipício pela borda externa, atravessando o vulcão por baixo da fumaça, comendo o mingau quente pela beirada e costurando a fronha pelo avesso. Depois de sete dias de guerra total e ininterrupta, as gigantes haviam sugado dez mil pigmeus vulva adentro, pulverizando-os. Cambaleantes e prostradas bateram em retirada em direção à montanha. Os machos que não morreram de coma alcoólica, deixaram-se dominar, manietar e gomorrizar (sodomizar nunca! Macho que é macho aceita tudo, menos bafo no cangote), sempre na esperança de tirar o pó da garganta. As fêmeas, vencedoras da guerra da quádrupla desaliança ou, (como ficou oficialmente gravada em nossa história) Guerra Púnica (dada a assombrosa incidência de disfunção flatulenta nos combatentes), inebriadas pela vitória e por outras mumunhas impublicáveis e incontáveis, tomaram o poder e assumiram o comando da reconstrução do Pau Doce. Até hoje, passados tantos arquianos e tantas léguas temporais, Pau Doce continua uma terra vulvular, na qual o homem é o último que fala e o primeiro que apanha.

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