domingo, 19 de dezembro de 2010

43 A invasão dos pigmeus superdotados

Para aquele que não conhece Pau Doce e que lendo estas Itinerâncias tenha ficado com vontade de conhecê-lo, ou até mesmo de transformar-se em morador desta praia, virar paudocense, paudocencizar-se, vou narrar um episódio histórico que fez deste um vigoroso Pau, soberbo e soberano e não apenas adocicado. No ano do acontecimento em tela, Pau Doce já havia sido descoberto, conquistado, colonizado, sodomizado e já vivera dias memoráveis na memória dos menos desmemoriados. Enfim, já era um Pau falado. O ano exato foi aproximadamente, mais ou menos com certeza quase absoluta sete mil dozecentos e trezenta e zero. Se o oligofreníssimo leitor está com dificuldade de identificar o citado ano, é só lançar mão de um calendário hitita ou drusometalíngeo, facilmente encontráveis em qualquer loja de 1 e 99, nos quais (calendários, evidentemente) o ano é composto de apenas um mês , que, por sua vez, comporta 28 submeses, divididos estes em meio inframês cada um, seccionados em 9,78413 dias. Utilizamos estes calendários, primeiro porque são mais fáceis de entender, depois, porque são idênticos entre si (o hitita e o druso), mas, primordialmente, porque ninguém os conhece, o que evita contestações e mal-entendidos. O ano inicial deles (dos calendários) não é, como é óbvio, nem o nascimento de Cristo, nem o da circuncisão de Maomé, nem o da santificação de Nero, nem o da gravidez de Sicrofanta, mas o da lapidação de Tutankaguey, o Passivo, também conhecido por seu exuberante lombo, com o qual distribuia frenéticas lombadas, derrotando exércitos inteiros, esgotando os valorosos inimigos, minando suas forças (nunca forçando suas minas, é claro) e exaurindo suas libidos, sendo, por essa razão, também chamado de Retoletal, o Culminante. Bom, na dita data Pau Doce foi palco (mais do que palco foi o teatro inteiro) de um acontecimento tanto inusitado quanto nunca visto: uma invasão de pigmeus antropófagos que coincidiu com outra invasão, a de gigantescas mulheres ninfomaníacas. Imagine só, limitadíssimo leitor, duas invasões sobrepostas perpetradas por invasores tão diferentes e, de fato, mutuamente excludentes. Foi um horror pânico, uma hecatombe nuclear, na verdade, uma situação complicada, difícil, um pouco incômoda, que não passou de uma encheçãozinha de saco. Os pigmeus eram tão pequenos e com membros tão descomunais (não os membros superiores ou inferiores, mas os do meio) que mais pareciam aparelhos detectores de metal de filme de ficção científica de 3ª classe. O que tornava essas minúsculas miniaturas um grande perigo eram a enorme quantidade de espécimes, sua velocíssima capacidade de reprodução e o fato de se apaixonarem com extrema facilidade. Chegaram, segundo fidedignos relapsos, relapsos não, relatos, aos milhares, em pequenos barcos que mais pareciam grandes bacias – dessas usadas para lavar roupa na pré-história – e, nem bem desembarcaram, ainda na areia da praia, já começaram a proliferar com toda e qualquer fêmea que encontrassem pela frente (e por trás também), independentemente da espécie feminina: garanguejas, gatas, cadelas, professoras, donas-de-casa, prostitutas (as quais eles evitavam porque cobravam muito caro). Nem as monjas do 7º dia foram desprestigiadas. Naqueles dias, Pau Doce transformou-se na maior cornolândia que o mundo conheceu (naqueles dias, não, desde aqueles dias). Homens desconsolados choravam em grupos, sem vergonha de serem infelizes, alguns abraçados e fungantes, outros com o olhar vazio fitando um horizonte impossível de ser visto, outros ainda, numa revolta inútil, proferiam ameaças contra todos os copuladores alienígenas e procuravam armar-se para perpetrar uma vingança inviável. E, tal qual os homens, também os caranguejos-machos, os gatos, os cachorros, os bacuris, os orangotangos, todos desesperados, mas não tanto, nem com a mesma veemência dos cornos humanos, apenas algo entristecidos e desmachificados. Só os veados pareciam não se comover muito com a preferência dos pigmeus e suas cornealíssimas conseqüências. As mulheres e fêmeas, de um modo geral, (somente as em idade fértil e de folga) desfilavam um sorriso de felicidade edênica, suspiravam longos suspiros, cantarolando baixinho canções obscenas, colhiam flores para enfeitar os cabelos, atitudes que só faziam aumentar o desespero e a revolta da macharia ferida. Os pequititicos penetradores da virtude alheia, podiam ser vistos (apenas os de folga, evidentemente) trespassados de cansaço e suor, fumando libidinosamente durante os rápidos interregnos que separavam as cópulas. No auge da carnificina, quando tudo parecia indicar a analização e pigmentação de Pau Doce (o domínio de anões e pigmeus) como fato consumado e irreversível, quando havia certeza coletiva de que não havia hipótese de que a situação viesse a piorar, já que não poderia haver nada mais catastrófico do que a desgraça que havia se abatido sobre os pacatos e chifrudos cidadãos, o pior aconteceu. Inopinadamente, surgiu, agora não do mar, mas da montanha, um batalhão de enormes mulheres. Um batalhão de mulheres? Depois dos pigmeus tarados, um batalhão feminino? Só mesmo fazendo uma pausa...

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