quinta-feira, 27 de maio de 2010

1-Introduzindo o Pau Doce

Praia de Pau Doce

Finalmente eu tinha conseguido tirar aqueles dias livres para poder sair um pouco em busca do reequilíbrio. Quando fico muito tempo sem uma folguinha dessas, sinto que meu organismo exige de mim, autoritário, um tempo para pôr as coisas no lugar: roupa no armário, sapato na sapateira, livros na estante... Não, não, isso é estresse na veia. Colocar outras coisas no lugar: idéias na cabeça, chinelo no pé, sono em dia, não em noite, dormir até o meio-dia, deitar ao amanhecer. Maravilha! Para tudo isso, um mês é pouco. E pensar que às vezes passo uma eternidade sem férias. Meu médico estrila, fica doido comigo. Chego ao cúmulo de ficar dois, três meses sem férias. Mas, graças ao bom Teus, (Teus é o meu chefe), estava eu ali, com todos aqueles dias à minha disposição. Resolvi ir para o litoral norte. Sem novidade, sempre vou pra lá: Sahy, Paúba, Toc-Toc... Dessa vez havia resolvido algo mais exclusivo, mais selvagem: Praia do Pau Doce. Ah, Pau Doce! Apesar do nome se dever a uma árvore nativa, algumas pessoas escandalizadas, que sempre as há, insistem em alegorizá-lo, ruborizadíssimas, “Pênis Edulcorado”. Belo nome! Alguns parecem preferir Pênis Edulcorado a Pau Doce, acredito que é por acharem mais urbano, mais metido a besta, mais propagandístico, mais cultura de massa. (Cabe aqui uma rápida digressão sobre a verdade histórica deste corajoso nome. Pau Doce teve, desde sempre, a ousadia de assumir seu nome, mesmo com todos os contratempos que pudessem ser causados pelos mais variados equívocos. Involuntários, uns; capciosos e sacanas, outros. Não foi covarde como Paúba, cujo nome original e histórico, sendo praia-irmã de Pau Doce era Pau Babado e, por medo da discriminação contra tão sonoro e estimulante nome , alterou-o para o atual e insignificante Paúba, deixando o pau intacto, decepando a integridade do babado e enfiando um criminoso acento agudo na ponta do pau. As duas praias formavam, desde a descoberta, uma unidade: Pau Doce e Pau Babado. O cara se melava no primeiro Pau e babava no segundo. Quando os traidores de Paúba resolveram mascarar o sacrossanto nome, tentaram, inicialmente, induzir (aliciando e subornando) e, posteriormente, obrigar (chantageando e ameaçando) os valorosos paudocenses a praticar o mesmo crime – propuseram a troca de Pau Doce para Paúdo, assim, ao invés de Pau Doce e Pau Babado ficariam Paúdo e Paúba – foram, porém, rechaçados com vigor e indignação). Mas, voltando à praia, que maravilha é Pau Doce! (As mulheres que o digam. As que freqüentam Pau Doce, é claro). Que areia, que água, que ondas! Arenosa, molhada e ondulante como qualquer outra. É que, além do doce nome, Pau Doce é doce também por outras razões. Por exemplo: não tem banco, quer dizer tem banco, mas não tem Banco, desses que dão nota pro país. Levam uma nota preta do país e dão nota vermelha em pagamento. É mole? Bancão necas, mas tem um mini-mercado digno do casal gay mais exigente. Aqueles queijinhos de 10 dólares a fatia, tipo folha de papel-de-seda ou, no máximo, fatia de presunto. Falando nele, o prsesunto, não poderia faltar um dos bons, a altura do nome da praia, importado da Ilha de Caras. E croquetes, dos grandes. E salames, vigorosos. Vinhos afrodisíacos, paella virtual, picanhas em flor recém-colhidas do pé, angulas “en aceite”, lulas recheadas com chocolate branco, velas de citronela com motivos a baianos, café instantaneamente solúvel, e, outros, soluvelmente instantâneos, todos aromatizados artesanalmente. E camisinhas, saidinhas, (de banho), e biquinininhos e viagrinhas e, acima de tudo e menos importante do que nada, miríades de repelentezinhos, que por repelentes que sejam, em Pau Doce sempre são bem-vindos, já que deles se espera que cumpram sua função repelidora ou repilatriz, mais com os borrachudos autóctones do que com as boazudas, aos toques. Tudo enfim, no Mini-mercado Glória de Pau Doce. Nele, Glória, a proprietária (e ativista GLS), não deixa faltar nada que seja necessário para que se possa passar um desses fins-de-semana prolongadinhos de dois meses e meio, que passam voando, sem nenhuma cerimônia, como se fossem íntimos da casa. E a Glória, além do mercadinho, tem também um bar. É o Sans Chupança. Naturalmente, “Sans Chupança do Pau Doce” é a razão social. Social, etílica e freguesia limitada. Que bar! É um bar pra bêbado nenhum botar defeito e sóbrio algum passar na porta. Aliás, a casa tem várias regras e essa é uma delas: “Sóbrio não entra e bêbado não sai”. Tudo barato, baratíssimo, diria, subsidiado. Tudo o que a Glória ganha no Glória deve perder no Sans Chupança. Por causa da Roleta... Mas, esse já é outro assunto.

Um comentário:

  1. GRANDE IDUACOL

    COMPOSITOR, ESCRITOR, PROFESSOR, CANTOR, PINTOR, ARTISTA DA MAIS EXTREMA SENSIBILIDADE,
    SOU TEU FÃ DE CARTEIRINHA HÁ TEMPOS E FUI PRIVILEGIADO EM ADQUIRIR AS PRIMEIRAS CÓPIAS QUE ME FIZERAM APAIXONAR PELO PAU DOCE , OU MELHOR, PELA REPÚBLICA DO PAU DOCE...PARABÉNS, MEU AMIGO!

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